O presidente Lula (PT) evitou fazer críticas mais contundentes à atuação das Forças Armadas no país e disse que prefere não ficar remoendo as consequência do golpe de 1964 porque isso “faz parte do passado” e quer “tocar o país para frente”.
Ele ainda acrescentou que em nenhum outro momento da história os integrantes das Forças foram tão punidos, como estão sendo atualmente, pelo envolvimento em tramas golpistas e por participação nos ataques de 8 de janeiro.
Lula concedeu uma entrevista para o programa “É Notícia”, da RedeTV, que foi ao ar na noite desta terça-feira (27). O petista foi então questionado sobre qual deveria ser a posição das Forças Armadas em relação a eventuais celebrações dos 60 anos do golpe militar, no próximo dia 31 de março.
“Eu sinceramente vou tratar da forma mais tranquila possível. Estou mais preocupado com o golpe de janeiro de 2023 do que com o de 64 que eu tinha 17 anos de idade, estava dentro da metalúrgica Independência quando aconteceu”, afirmou o presidente.
“Isso já faz parte da história, já causou o sofrimento que causou, o povo já conquistou o direito de democratizar esse país. Os generais que estão hoje no poder eram crianças naquele tempo, alguns acho que não tinham nem nascido ainda. O que eu não posso é não tocar a história para frente, ficar remoendo sempre”, completou.
O presidente na sequência afirmou que a sociedade e os militares não podem ser tratados e se verem como inimigos. E acrescentou que ele está tentando reconstruir a fidelidade dentro das Forças.
Em um momento em que militares são alvos da Polícia Federal, por suspeita de envolvimento numa trama golpista para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder, Lula acrescentou que busca pessoas nas Forças Armadas com qualidade democráticas para exercerem comando.
“Em nenhum momento da história os militares foram punidos como estão sendo punidos agora. Em nenhum momento um general foi chamado pela Polícia Federal para prestar depoimento, coronel, todos, todos que provarem que participaram serão julgados”, afirmou o mandatário.
O presidente também comentou o ato organizado pelo ex-presidente Bolsonaro, que reuniu milhares de pessoas na avenida Paulista, no domingo (25). Lula disse não considerar ruim a presença de diversos governadores, muitos dos quais atualmente mantêm diálogo com o Palácio do Planalto.
O petista fez então um paralelo com a campanha pelas Diretas Já, em que havia nos palanques políticos de diferentes regiões e alas políticas. Por outro lado, afirmou que a manifestação foi organizada para “defender golpistas”.
Ele também acrescentou que o discurso de Bolsonaro e outros presentes foi “encomendado por advogados”, por isso não avançou em críticas, com receio de consequências jurídicas. Disse que o discurso foi “vaselina”.
“Os discursos foram muito vaselina. Eles foram encomendados pelos advogados, ‘olha, cuidado com as palavras, não fale nada que possa depor contra a constituição, não fala nada que possa depor contra a democracia’. Então estava todo mundo parecendo um colégio de iniciantes”.