Um projétil encontrado na cena do crime revelou não só o autor, mas também uma peculiaridade: a arma foi utilizada para cometer outros nove homicídios. O comerciante Pedro Victor de Souza Coêlho, de 29 anos, acusado formalmente pela morte de um estudante universitário em Camaçari, teria usado a mesma pistola 9 milímetros para tirar a vida de outras pessoas nos últimos anos em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador. As vítimas tinham em comum dívidas com ciganos, agiotas e até traficantes. Ainda segundo a polícia, ele receberia até R$ 40 mil para “dar cabo” em alguém e o número de óbitos pode ser bem maior. Não é à toa que ele foi incluído no sistema de reconhecimento facial da Secretaria de Segurança Pública (SSPBA).
De acordo com ele, o Pedro Victor é suspeito de ter matado o cigano Maik da Gama Ramos Santos, baleado dentro de um Corolla, no dia 16 de dezembro do ano passado. “Chegou para nós que ele e um comparsa cometeram o crime. O motivo ainda não sabemos, mas temos a certeza da participação dele”, disse o agente. Este crime é apurado pela Delegacia de Homicídios de Camaçari. A reportagem perguntou à Polícia Civil se realmente se o pistoleiro é investigado neste caso. “Não divulgamos nomes de suspeitos”, disse a nota.
Destreza
Segundo fontes da Polícia Civil, Pedro Victor tem em seu currículo dezenas de mortes, algumas já formalizadas em delegacias, como a execução do ex-funcionário da Ford e estudante do curso de logística Thiago José Santana de Azevêdo, de 37 anos. “Quem o contratou, deu todos os detalhes da rotina, tanto que a vítima foi seguida desde casa. Ele esperou o melhor momento para agir”, contou o policial. No dia 15 de novembro do ano passado, Thiago, que morava no bairro da Pituba, em Salvador, foi para Guarajuba com a namorada e a mãe dela. Eles passaram o dia em um famoso restaurante de lá. Por volta das 15h30, deixaram o local num Peugeot branco.
Universitário, Thiago José é uma das vítimas de Pedro Victor, segundo a polícia Crédito: Reprodução
Imagens de câmeras de segurança mostram que o Peugeot, conduzido pela mãe da namorada de Thiago, saiu de Guarajuba às 15:48. As lentes captaram também o HB20 preto, dirigido pelo matador, que estava logo atrás. Às 15:52, uma outra câmera flagra o momento em que o HB20 inicia uma ultrapassagem pela direita. “Mas antes, ele se certificou que a vítima não estava ao volante. Emparedou pela esquerda e viu que duas mulheres estavam na frente. Então, segurou o carro e foi pela esquerda e viu Thiago no banco detrás”, contou o agente.
Mesmo ao volante, o pistoleiro usou sua destreza e disparou contra o universitário. “Ele conseguiu acertar a vítima com o carro em movimento, no km 35 da Estrada do Coco, imediações do Condomínio Parque das Árvores, em Barra de Jacuípe. O rapaz foi baleado no pescoço, abdômen e perna”, detalhou o policial. Thiago foi socorrido pela namorada e a mãe, que o levaram para a UPA de Arembepe, onde recebeu atendimento médico ainda no estacionamento da unidade, mas não resistiu. “A frieza é tamanha, que ele (matador) trocou de roupa e foi à UPA para se certificar do óbito”, emendou.
Mortes
A morte de Thiago foi investigada pela 33ª Delegacia, em Monte Gordo. Durante a apuração, agentes encontraram uma cápsula 9 milímetros ainda no asfalto. O material foi encaminho para o Departamento de Polícia Técnica (DPT) onde, através de um banco de dados, chegou-se à conclusão de que a mesma pistola usada por Pedro Victor no crime também foi empregada em nove assassinatos na região de Camaçari. “Geralmente, quando um pistoleiro se adapta a sua arma, ele não se desfaz. Temos a certeza que ele cometeu todas as mortes”, disse o investigador.
Câmeras registram o momento em que Thiago é seguido e morto dentro do carro Crédito: Reprodução
Um mês após o crime, a juíza Maria Cláudia Salles Parente, da Vara de Execuções Penais, decretou a prisão do pistoleiro, que até agora está foragido. Agentes da 33ª chegaram a ir à casa dele, num conjunto residencial no Bairro Novo, em Camaçari, e em outros lugares, mas sem sucesso. Outras delegacias da RMS, a exemplo da 26ª Delegacia, em Vila de Abrantes, teriam solicitado à Justiça a prisão do criminoso também por homicídio.
Comerciante
Oficialmente, Pedro Victor exerce a profissão de comerciante. O seu nome consta como o proprietário de um depósito de bebidas no bairro de Bela Vista, em Camaçari – a empresa está ativa na Receita Federal. Antes do Bairro Novo, ele morou na Gleba C e trabalhou como soldador.
O processo que apura a morte de Thiago está em segredo de Justiça e por isso o CORREIO não teve acesso ao advogado do acusado. A reportagem manteve contato com o Tribunal de Justiça do Estado (TJBA), mas não houve resposta. A reportagem procurou saber se Pedro Victor é assistido pela Defensoria Pública do Estado (DPEBA), que nada informou. Mas o espaço segue aberto para o advogado do acusado se posicionar. Correio