A família de Brendo de Sousa dos Santos, 26 anos, morto na sexta-feira (5) em Ubaitaba por policiais militares, está questionando a versão apresentada pelos agentes. Enquanto os policiais alegam que o jovem reagiu e morreu em confronto, a família diz que ele estava “jurado de morte” pelos militares e que havia sido torturado por eles, junto com a esposa grávida, há dois meses.
Ainda segundo ela, Brendo não tinha arma, não bebia e não usava drogas. Ele trabalhava como guarda municipal no turno da noite em uma escola da prefeitura de Gongogi, onde morava. Durante o dia era gerente de uma fazenda de gado. Há pouco mais de um mês, teve que sair da cidade após supostamente ter sido torturado por policiais.
“A Rondesp invadiu a casa dele e torturou ele e a esposa grávida. Os policiais disseram que ele não ia ver a filha dele nascer. Ele estava jurado de morte aqui, foi muita crueldade o que fizeram com meu filho”, disse a mãe do jovem, que ainda acrescentou que os policiais costumavam aparecer encapuzados, sem mostrar os rostos. Brendo foi sepultado na manhã deste domingo (07), no município de Gongogi.
“Os policiais disseram que ele não ia ver a filha dele nascer. Ele estava jurado de morte aqui, foi muita crueldade o que fizeram com meu filho”
Isaura Moreira
mãe de Brendo
Mais ameaças
Há dois meses, o irmão de Brendo, Nelson José dos Santos Neto, 24, também foi morto pela polícia, como alega a mãe, com a mesma justificativa de que houve um confronto. Desde sexta-feira (5), após a morte de Brendo, Isaura relata estar recebendo ameaças à segurança do restante da família. “Falaram que iam exterminar minha família de um por um”, revelou.
Na véspera do dia em que morreu, Brendo teria viajado para Ilhéus para encontrar o advogado Walisson dos Reis, que agora representa a família. Queria entender o motivo da perseguição policial que vinha sofrendo. O advogado destacou que o jovem não era procurado pela polícia, mas tinha passagem por um acidente de trânsito em 2019, ao qual respondeu prestando serviço à comunidade. Walisson contou também que que a casa da família foi invadida pela polícia com agentes encapuzados por mais de três vezes.
“Isso tem acontecido muito na Bahia. Eles pegam a pessoa viva, matam e falam que foi confronto”
Walisson dos Reis
advogado da família
O advogado disse que pretende acionar a Corregedoria da Polícia Militar e o Ministério Público do Estado. Em nota, a Polícia Civil afirmou que de acordo com a ocorrência registrada na Delegacia Territorial de Ubaitaba, na sexta-feira (5), policiais militares estavam em patrulha na BR-101, quando abordaram um veículo e que Brendo saiu do carro atirando contra as equipes – o vídeo acima nesta reportagem mostra Brendo deixando o carro ainda vivo, já rendido. A versão oficial do boletim de ocorrência aponta que teria acontecido um tiroteio após revide dos PMs e Brendo foi baleado. Ferido, ele foi socorrido para o Hospital São Vicente de Paula, mas não resistiu.
Foi apreendida com Brendo uma pistola calibre 380, ainda segundo a polícia. O CORREIO questionou também a Polícia Militar (PM) sobre o caso, mas não obteve retorno.