Com realidades indefinidas, clubes tradicionais de Feira de Santana, como Bahia e Fluminense de Feira que outrora eram figurinhas carimbadas no futebol baiano, vivem em suas histórias recentes momentos de crise que se alinham à busca pela reestruturação da sua gestão e do seu futebol.
O Bahia de Feira é o clube que teve sua queda mais recente. Rebaixado no Campeonato Baiano de 2024, o Tricolor era conhecido por ser o mais organizado financeiramente entre os times do interior da Bahia e chegou às quartas de final na Série D em 2023. A última conquista da equipe foi o Campeonato Baiano de 2011, quando bateu o Vitória, no Barradão, pelo placar de 2 a 1.
Já o Fluminense de Feira, teve a sua última aparição na elite do futebol baiano no Campeonato estadual de 2021, quando foi o último colocado na primeira divisão do Baianão e nunca mais retornou à Série A da competição. A campanha da equipe se encerrou com 1 vitória, 3 empates e 5 derrotas em 9 partidas disputadas. Com o resultado, o Flu não conseguiu se manter na primeira divisão e segue fora dos holofotes desde então.
ONDE AS EQUIPES JÁ ESTIVERAM?
Diferentemente da situação que vivem hoje, as equipes feirenses estiveram muito perto de atingir patamares ainda maiores com suas últimas trajetórias de glória, mas o pouco poder econômico e a falta de planejamento esportivo acabou atrapalhando o caminho das equipes, que possuem futuro indefinido após as quedas recentes.
Hoje, tanto o Baianão quanto a Copa do Nordeste não possuem as duas maiores equipes de Feira de Santana e isso evidencia a grande carência que existe no futebol feirense. Torcedores de ambas as equipes agora aguardam um nível de reestruturação no futebol do seu município tal qual o Barcelona de Ilhéus deu ao cidadão após a queda do Colo-Colo.
A última grande campanha do Bahia de Feira foi no Campeonato Baiano de 2011, na ocasião a competição era dividida em dois grupos com seis equipes cada. As quatro equipes mais bem colocadas se classificavam para as fases seguintes.
Foto: Reginaldo Tracajá
Na primeira fase, o Bahia de Feira foi o melhor do Grupo A, onde fez 23 pontos em 12 jogos, com 6 vitórias, 5 empates e somente uma derrota.
Na segunda fase, o esquema se repetia com as quatro melhores equipes da primeira fase. O Tremendão se classificou para as semis em primeiro colocado, com 12 pontos em 6 partidas, sendo quatro vitórias e duas derrotas.
Declarando a sua boa fase naquele momento, o Tricolor Feirense bateu o Serrano pelo placar de 3 a 2 no agregado (2 a 1 em casa e 1 a 1 fora de casa) e se classificou para a grande final, levando a melhor em cima do Vitória, no Barradão.
Logo após a conquista do Baianão, o Bahia de Feira fez campanhas tímidas até voltar novamente aos mata-matas em 2021 e 2022, mas as campanhas não fizeram a equipe progredir, culminando no seu rebaixamento nesta temporada.
O Fluminense de Feira viveu uma situação bem diferente que a do seu rival. O clube esteve no seu último melhor momento no Baianão de 2017, o primeiro com o novo modelo que une todas as equipes em uma única fase de pontos corridos antes do mata-mata, que perdura até os dias atuais.
Na última aparição do Flu na elite do Baianão, a equipe ficou em terceiro colocado na primeira fase com 20 pontos em dez partidas disputadas com 6 vitórias, 2 empates e 2 derrotas. Com o resultado, a equipe se classificou para as semifinais da competição.
Nas semis, a equipe não conseguiu manter o mesmo brilho que teve na primeira fase e caiu diante de um Bahia mais forte e soberano na competição. No jogo de ida, a equipe perdeu por 1 a 0 na Arena Fonte Nova, na volta, perdeu de 3 a 0 em casa, no estádio Jóia da Princesa.
Apesar de ter emplacado uma boa campanha no Baiano de 2017, a equipe não conseguiu se firmar nos anos seguintes, resultando na sua queda no ano de 2020 e desde então, nunca mais voltou à elite da competição.
QUE FASE VIVEM AS EQUIPES ATUALMENTE?
O Fluminense de Feira atualmente passa por um processo de reestruturação no seu futebol após a queda e aposta no modelo SAF como solução para os problemas financeiros da equipe. Em entrevista ao Bahia Notícias, o diretor administrativo, Tadeu Nascimento, deu detalhes sobre esse processo e como projeta o Fluminense daqui pra frente.
“O Fluminense nesse momento passa por uma transição para SAF. Nosso futebol foi terceirizado 90% e não estou autorizado a falar pela SAF mas falo pela Associação Fluminense de Feira Futebol Clube. Nós terceirizamos o futebol para a empresa Core3, que adquiriu 90% do futebol, ou seja, da associação do futebol do Fluminense. Existem alguns assuntos que não podemos comentar porque são eles que podem falar melhor da transição que estão fazendo”, contou Tadeu.
Foto: Divulgação / Fluminense de Feira
O Bahia Notícias procurou Zé Chico, dirigente responsável por comandar a SAF do Fluminense de Feira, mas não obteve respostas. Tadeu focou no quesito administrativo para explicar como se deu esse processo de transição.
“Hoje quase todos os clubes de futebol do país vivem momentos delicados. Há exemplos de times como Coritiba, Botafogo, Cruzeiro, Vasco, Bahia e agora o Fluminense. Todos os clubes aderiram agora à SAF porque é a maneira do clube sobreviver dentro do cenário futebolístico. Hoje no futebol, viver do torcedor e do sócio torcedor, não tem dado conta em termos financeiros. O custo hoje do futebol é muito alto, caríssimo, então a sugestão é partir para uma SAF, transformar o clube em empresa para ele ter mais poder de vida e mais sustentação dentro do mercado. Uma das razões em que partimos para a SAF foi essa, temos que procurar as melhores coisas pro nosso clube e não teve outro caminho a não ser partir pra SAF”, concluiu.
O Bahia de Feira, que recentemente caiu para a segunda divisão do Campeonato Baiano, passou por mudanças drásticas no seu futebol nas últimas semanas. Com declarações muito fortes, o ex-presidente Thiago Souza afirmou que estará se desligando do futebol e venderá o clube para outra empresa.
Foto: Rafael Falcão / Bahia de Feira
“A família Souza não irá mais continuar no futebol, nós temos sofrido no futebol com erros de arbitragem, como comprometimento de atletas, coisas que não dependem de planejamento nosso, isso tem nos desgastado muito emocionalmente. Associado a isso a gente tem uma falta de investimento no futebol do interior da Bahia muito grande e a gente não vê perspectiva. A gente vê um campeonato baiano que é direcionado a quase que 70% da receita da televisão pra BaVi e 30% é dividido para os clubes do interior, então acaba que isso enfraquece muito financeiramente o clube do interior e o futebol tem custos elevadíssimos, então fora o desgaste emocional, nós tivemos um desgaste financeiro onde nós não vemos retorno no futebol como empresa, então quando você junta essas variáveis que dá todo esse desgaste na gente, a gente prefere nos afastar do futebol e seguir a nossa vida empresarial”, relatou o ex-presidente.
Na última quinta-feira (7), o Tremendão dispensou todos os seus 25 atletas, que tiveram o seu desligamento no BID da CBF. O Bahia Notícias procurou Diones, volante que estava no elenco e remanescente do título Baiano de 2011, mas o atleta não se encontrou em condições emocionais de falar a respeito da crise.
Foto: Divulgação / CBF
“Eu não gostaria de falar sobre isso ai (rebaixamento e fase atual do Bahia de Feira). Ainda estou sentido por tudo que aconteceu e gostaria de evitar de falar sobre num primeiro momento. No futuro estarei melhor para contar sobre essa situação”, contou Diones.
Sobre os erros de planejamento do Bahia de Feira nesta temporada, o ex-presidente Thiago Souza falou sobre o que mudou do quase acesso à Série C da temporada passada ao Rebaixamento.
“Nosso planejamento não foi executado como estava planejado. Sempre é um conjunto de fatores. Então, assim, eu posso adivinhar para você uns dez fatores que acabaram não dando certo e que culminou pro nosso rebaixamento. Primeiro, nós tivemos uma preparação que não foi muito boa, onde deixamos a desejar tanto na parte técnica quanto na parte física. Segundo, nós não tínhamos um grupo de atletas que estavam totalmente comprometidos com as ideias do treinador no início. Acabou que isso deu um desgaste um pouquinho. Terceiro, nós tivemos muitos jogos seguidos, quando os resultados não estavam vindo, acabavam gerando uma tensão maior do que o normal. Em seguida, nós tivemos arbitros bastante questionáveis. Onde tiveram pênaltis marcados que não existiram, pênaltis claríssimos, não marcados a favor, e isso interferiu diretamente no resultado de pelo menos três partidas, que nos levou a esse número de pontos que nos rebaixou para a segunda divisão. Mas, de modo geral, a culpa do rebaixamento toda é minha. É sempre quem comanda o culpado de tudo, porque sou eu que escolho os profissionais, sou eu que escolho os jogadores. Então, assim, eu assumo toda a responsabilidade do que aconteceu, mas eu te digo que o futebol é a engrenagem que quando as coisas não estão funcionando perfeitamente”, revelou Thiago.
Questionado sobre o estado do futebol de Feira de Santana vide as situações de Fluminense e Bahia de Feira, Thiago foi rígido ao falar que as equipes não são beneficiadas mesmo após boas campanhas.
“Em relação à Feira de Santana não ter nenhum time na Série A, eu acredito que o principal que sofrerá com isso serão os torcedores e quem gosta do futebol, de ir pro estádio ver partidas de futebol profissional e a imprensa, porque em Feira de Santana não tem nenhum tipo de apoio do poder público com futebol. Nós do Bahia de Feira, apenas uma temporada, nós conseguimos um patrocínio relativamente significante da Prefeitura de Feira de Santana. A gente entende que nos últimos anos o Bahia de Feira foi um dos nomes que elevou a nossa cidade no cenário nacional, com jogos de Copa do Brasil, com quase acesso a uma Série C do Campeonato Brasileiro, e nem assim o poder público entende que é importante pra cidade. Nós já pedimos umas três ou quatro vezes o Jóia da Princesa em um turno pra treinar quando nós iríamos jogar na grama natural e nem resposta obtivemos. A gente tem um poder particular de Feira de Santana, que não entende que tem visibilidade de futebol, que a gente não consegue adquirir patrocínios. Então assim, para a cidade eu acredito que o torcedor e a imprensa esportiva irão sentir muito não ter um time na Série A, mas para a cidade como um todo eu acredito que pode ser um tanto quanto insignificante.
Sem nenhum calendário no restante da temporada 2024, Fluminense e Bahia correm atrás das suas reestruturações para voltarem ao lugar que um dia os pertenceram. O Touro do Sertão parece estar arrumando a sua casa para voltar à elite, já o Tremendão vive forte momento de incertezas quanto ao seu futuro e tudo dependerá apenas de uma futura venda.