A substituição de Joe Biden, 81, por Kamala Harris, 59, impulsionou as intenções de voto nos democratas em todos os sete estados que determinarão o vencedor da corrida pela presidência americana.
Há três semanas, a própria campanha democrata admitia em um memorando interno que dificilmente conseguiria virar o jogo no Arizona, na Geórgia e em Nevada -Donald Trump, 78, já havia conseguido abrir uma vantagem de 5 pontos percentuais, na média das pesquisas.
Agora, o empresário aparece empatado com Kamala nos três estados do chamado Cinturão do Sol, segundo média dos levantamentos realizados desde a troca no time democrata.
Esses colégios eleitorais se destacam no grupo dos sete por sua demografia: latinos são 22% e 25% do eleitorado de Nevada e Arizona, respectivamente. Na Geórgia, um terço é negro, de acordo com o Pew Research Center.
São dois grupos em que Biden vinha perdendo apoio -não necessariamente para Trump, mas em razão de uma insatisfação com o octogenário. Assim, muitos declaravam que não votariam neste ano (a participação eleitoral nos EUA não é obrigatória) ou que escolheriam o candidato independente Robert F. Kennedy Jr.
Kamala, a primeira mulher não branca a disputar a Presidência por um grande partido, vem fazendo parte desses eleitores mudarem de ideia, mostram os dados, o que explica sua ascensão nas pesquisas, enquanto Trump tem se mantido praticamente constante, na média.
“Se Kamala é de certa forma inexperiente no Meio-Oeste, um dos pontos positivos de sua candidatura, pelo menos até agora, é que ela parece ter reaberto o caminho dos democratas no Cinturão do Sol”, afirma J. Miles Coleman, do Sabato’s Crystal Ball, um dos principais centros de projeção eleitoral americanos, vinculado à Universidade da Virgínia.
Nesta semana, o grupo retirou a Geórgia do grupo de estados que tendem a Trump e colocou entre aqueles em que o resultado é imprevisível.
Outro fator citado na análise é menos demográfico, e mais partidário: o empresário voltou a atacar o governador da Geórgia, o também republicano Brian Kemp, em um comício no estado na semana passada. Trump culpa o colega de partido por ter perdido a eleição no estado em 2020.
“Ele é um cara ruim”, afirmou o empresário. “Muito desleal. E um governador muito mediano.”
Kemp, no entanto, é um governador popular.
Outro centro de análises que revisou suas projeções foi o tradicional Cook Political Report, que passou os três estados do Cinturão do Sol da coluna dos que tendem a Trump para aquela em que tudo pode acontecer.
“Pela primeira vez em muito tempo, os democratas estão unidos e energizados, enquanto os republicanos estão em desvantagem”, afirmou a analista Amy Walter, que comanda a consultoria.
O desempenho de Kamala também melhorou em comparação com Biden nos outros quatro estados que definirão a corrida pela Casa Branca: Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, que formam o chamado “paredão azul”, e a Carolina do Norte.
No paredão azul, que leva esse nome por ser uma espécie de muralha democrata (furada por Trump em 2016), Kamala está à frente do empresário na média das pesquisas de intenção de voto nos três estados. Se a democrata vencer em todos eles, pode perder os outros quatro e ainda assim levar a Casa Branca.
A escolha de Tim Walz para ser vice em sua chapa é uma estratégia para fortalecer a campanha democrata no Meio-Oeste. Coleman relembra, por exemplo, que o governador de Minnesota pode ter um apelo com o vizinho Wisconsin, considerando o peso da mídia regional de seu estado para além da fronteira.
Nas pesquisas nacionais, Kamala está à frente de Trump na média dos principais agregadores de pesquisas. No FiveThirtyEight, a democrata tem uma vantagem de 2 pontos, no RealClearPolitics, de 0,5 p.p, e no do New York Times, de 1 ponto.
Os dados, no entanto, ainda mostram um cenário pior para os democratas do que há quatro anos, quando Biden tinha uma vantagem expressiva sobre Trump a essa altura da corrida.
Nos cálculos tanto do Sabato’s Crystal Ball quanto do Cook Political Report, republicanos têm 235 delegados e democratas, 226. Restam 77 votos em disputa, nos sete estados em aberto.
Outro dado que vem animando os democratas é o desempenho melhor de Kamala entre mulheres brancas com diploma universitário e eleitores independentes. Segundo levantamento Morning Consult/Bloomberg, a candidata tem uma vantagem de 5 pontos nacionalmente entre eleitores independentes, e de 9 pontos entre aqueles com 18 a 34 anos.
“Para comparação, o presidente Joe Biden só foi melhor do que Kamala entre independentes uma vez em nosso levantamento diário, em janeiro de 2023, e no último levantamento com ele e Trump, Biden ficou atrás do candidato republicano por 9 pontos entre os eleitores mais jovens”, analisa a Morning Consult.