O presidente Lula (PT) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) trocaram afagos nesta sexta-feira (2) em evento oficial no porto de Santos, no litoral sul paulista.
Tarcísio disse que era preciso celebrar os acordos recentes entre governo federal e governo paulista. “O que importa é enxergar o interesse público”, disse o governador, que foi aplaudido ao ser anunciado, mas também ouviu algumas vaias e xingamentos.
Lula falou em seguida e saiu em defesa de Tarcísio. Disse que há hoje no país uma “normalidade” política para que ele e o governador possam atuar em conjunto em programas para o estado. “O governador merece ser tratado com muito respeito nas atividades dele”, afirmou.
“Vota no PT, Tarcísio”, gritou um dos convidados na plateia. O governador riu com a brincadeira.
Lula e Tarcísio são adversários políticos, mas têm feito gestos de aproximação pragmática em torno de projetos comuns entre os governos para o estado de São Paulo.
Tarcísio foi ministro do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e é apontado como possível candidato ao Planalto em 2026, o que ele nega, já que pode disputar a reeleição em SP. Bolsonaro, seu padrinho político, foi condenado por mentiras e ataques ao sistema eleitoral e está proibido de disputar eleições até 2030.
Esse foi o segundo encontro entre eles nesta semana. Na terça (30), Lula e Tarcísio tiveram um encontro com pragmatismo, clima leve e conversas sobre futebol e o Novo PAC (Programa de Aceleração e Crescimento) —selo de obras do governo federal.
A reunião durou cerca de meia hora, no Palácio do Planalto, em meio ao acordo do governo paulista e federal para que os dois dividam os custos —e louros políticos— da construção do túnel entre Santos e Guarujá, no litoral sul de São Paulo.
Segundo relatos, o futebol, uma das principais estratégias de quebrar o gelo de Lula, esteve presente.
No Planalto, o governador de São Paulo, que é frequentemente criticado pela militância de direita pelo diálogo com o petista, falou ainda de outros projetos que espera poder contar com o apoio do governo federal, como a extensão da linha 4 do metrô até Taboão ou a alça do acesso a Guarulhos do Rodoanel Norte, obras que, disse ele, não são possíveis sem o apoio do governo federal.
Lula indicou, assim como tem dito, que tem interesse em trabalhar junto do estado, mas não sinalizou especificamente nenhum projeto. Auxiliares palacianos falam que a postura deste governo difere do anterior ao promover interlocução do Executivo federal com os estados —apesar de declarações do Lula que possam incentivar a polarização.
O encontro de terça foi registrado por Lula nas redes sociais, com direito a fotos. O governador, por sua vez, apesar da postura de pragmatismo, preferiu evitar maiores exposições da reunião e não postou sobre ela nos seus perfis.
De acordo com aliados, Tarcísio de Freitas esteve com Bolsonaro há cerca de duas semanas e, na ocasião, teria afirmado que provavelmente iria a Brasília nas semanas seguintes para tratar do Porto de Santos. O ex-presidente teria compreendido a necessidade, disseram.
E, desta vez, a militância bolsonarista nas redes sociais não se mobilizou contra o governador. A principal preocupação dela, neste momento, é com as operações da operação Polícia Federal que na última semana colocaram na mira os deputados Carlos Jordy (PL-RJ) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), ambos pré-candidatos às prefeituras de Niterói e do Rio de Janeiro, e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos).
No passado, o governador já foi criticado pelos apoiadores do ex-presidente por sua postura de diálogo com o Planalto. Aliados de Bolsonaro mais radicais apontam para falta de lealdade, enquanto aliados de Tarcísio alegam ser necessária a proximidade para poder tirar do papel projetos importantes para o estado.