O Pátria Investimentos, fundo de private equity que detinha 80% das ações da indústria farmacêutica brasileira desde 2013, repassou o controle para o Pettra.
Formado no ano passado, o grupo de family office é especializado em negócios nos setores de varejo e consumo e conta com a participação acionária de Ronnie Motta, ex-CEO da Bombril.
Segundo apuração do portal InvestNews junto a fontes do mercado financeiro, a compra da Natulab seria efetivada com 100% de recursos próprios.
Os valores permanecem em sigilo e o cash-out, como é chamado o pagamento ao vendedor, aconteceria apenas depois de três anos.
Todo o aporte até esse período seria destinado para investimentos no laboratório.
Os demais 20% do capital da farmacêutica pertenciam a 16 famílias italianas, que também venderam sua participação com base em uma cláusula que garantia autonomia ao acionista majoritário nessas negociações.
O CEO do laboratório, Guilherme Maradei, mostrou-se muito animado com a negociação.
“A transação envolveu um múltiplo acima da média do mercado, graças ao sólido crescimento que vínhamos acumulando. Trata-se de um novo capítulo na trajetória da Natulab. O Pettra e a experiência de Ronnie Motta no mercado de bens de consumo contribuirão para termos uma visão de investimento de médio e longo prazo”, avalia.
Fatores que estimularam a venda da Natulab
Quando o portal repercutiu a possibilidade de venda da Natulab, os números da indústria farmacêutica fundada em 2000 pareciam animadores.
O faturamento consolidado em 2022 havia chegado a R$ 500 milhões, contra R$ 200 milhões de 2013 – ano em que o Pátria desembolsou R$ 130 milhões pela companhia.
De acordo com dados da IQVIA, o laboratório foi o que mais cresceu em vendas em 2022, considerando o preço de compra em farmácia (R$ PPP).
Saltou 11 posições no ranking da indústria farmacêutica. Em volume de unidades, alcançou a 15ª posição.
De suas 150 marcas de fitoterápicos, medicamentos isentos de prescrição e suplementos, 16 eram líderes em suas respectivas categorias, entre as quais Maxalgina (dipirona monoidratada), Seakalm (Passiflora incarnata L.) e Viter C (ácido ascórbico).
Mas a decisão de se desfazer da Natulab está diretamente associada ao interesse do Pátria Investimentos em olhar para outros segmentos.
O movimento seguiria a cartilha cumprida em outras empresas que integram o fundo.
A investidora anunciou, em maio de 2023, que faria uma oferta de sua participação na Smart Fit com a expectativa de arrecadar R$ 550 milhões, quando as ações da rede de academias registravam valorização acumulada de 24%.
No mês anterior, vendeu 10,1 milhões de papéis da construtora Tenda, cujo valor das ações já aumentou 73% desde janeiro.
Com essas operações, o grupo planeja ganhar corpo para investir em setores que são “a China dentro do Brasil”, conforme afirmou o sócio e country manager da Pátria, Daniel Sorentino, em entrevista ao portal Neofeed.
A meta seria obter ganhos de US$ 50 bi até 2025, com foco em “segmentos que crescem acima do PIB e vão muito além das tendências macroeconômicas”.
Entre essas atividades estariam agronegócio, alimentos e bebidas, energia renovável e tecnologia.
A saúde estaria entre as prioridades, porém mais atrelada a soluções inovadoras do que a indústrias tradicionais como a farmacêutica.
Exemplo é o investimento na Athena Saúde, rede de saúde suplementar que usa a tecnologia para mapear os hábitos de beneficiários de planos médicos e odontológicos, especialmente no Norte e Nordeste.
O Pátria também passou a ter participação minoritária na Kamaroopin, holding da qual faz parte a plataforma Dr. Consulta.
Natulab mirava R$ 2 bi de faturamento
A marca atual de meio bilhão em faturamento ainda estava distante da projeção de R$ 2 bilhões que a Natulab, baseada em Santo Antônio de Jesus (BA), havia lançado em 2019.
A ambição era alçar as cinco primeiras posições no ranking da indústria farmacêutica, com direito a centro de distribuição em São Paulo e avanço especialmente no eixo Sul-Sudeste.
Considerando indicadores da Close-Up International dos últimos 12 meses até fevereiro de 2024, o número de unidades vendidas em farmácias caiu 15% na comparação com o mesmo período anterior – de 107 milhões para 91 milhões.
A farmacêutica passou a ocupar a 23ª posição geral.
Porém, Guilherme Maradei reitera que essa queda em volume atendeu a uma decisão da Natulab de mirar atenções para produtos de maior valor agregado e rentabilidade.
O valor movimentado no varejo farmacêutico (R$ desconto) subiu 2,03%, o que mantinha a Natulab na 54ª colocação