No intervalo de dez dias, dois episódios de violência política contra pré-candidatos a prefeituras foram registrados na Bahia no mês de maio. O primeiro aconteceu em Cardeal da Silva, no dia 16, contra a ex-prefeita Maria Quitéria (PSB). Dias depois, a vítima foi o ex-prefeito de Alagoinhas, Paulo Cezar (União Brasil). Os ataques apontam para um cenário tenso para as eleições municipais deste ano.
O caso foi registrado na Delegacia Territorial de Entre Rios, município vizinho a Cardeal. De acordo com Quitéria, episódios do tipo já ocorreram em outras pré-campanhas. Embora tenha sido vítima mais de uma vez, a pré-candidata descarta a possibilidade de ter seguranças. “Não uso e não pretendo. Porém, eu pedirei à Delegacia da Mulher uma proteção”, afirmou.
Ao contrário de Maria Quitéria, Paulo Cezar contou que deverá contratar seguranças para a pré-campanha após ter sido vítima de agressão física durante um evento de futebol realizado pela atual gestão de Alagoinhas, no último dia 26, no bairro Jardim Petrolar. “Foi a primeira vez que isso ocorreu. Nunca andei com segurança na minha vida, mas agora terei que andar”, declarou.
Segundo Paulo Cezar, ele foi agredido enquanto cumprimentava pessoas que estavam no evento, quando o suspeito teria ordenado que ele saísse do local e acabou o empurrando. O pré-candidato prestou queixa na polícia e foi submetido a exame de corpo de delito.
No início deste mês, Valmir Justino, pré-candidato a vereador de Umburanas, no Norte do estado, foi morto a tiros. De acordo com a Polícia Civil, ele foi alvejado dentro de um carro por dois homens que estavam em uma motocicleta. O crime ocorreu na Rua Quirino Gama e Silva, no centro do município. Ainda conforme o órgão de segurança, Valmir possuía registro de prisão em flagrante por tráfico de drogas, em 2023, e já foi denunciado pelo Ministério Público da Bahia. Não há informações se a morte ocorreu por razões políticas.
A Justiça Eleitoral da Bahia foi questionada pela reportagem sobre os casos de violência na pré-campanha no estado. O órgão disse que a responsabilidade de se pronunciar sobre o assunto é da Polícia Civil. Por sua vez, a PC informou que abriu investigações sobre as agressões a Maria Quitéria e Paulo Cezar. A polícia também declarou que os suspeitos já foram ouvidos e que o procedimento investigativo está em fase de conclusão.
Tensão nas eleições
A polarização municipal citada pelo cientista político não é a mesma que foi observada no embate presidencial de 2022, entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Segundo o especialista, é “muito mais complexa”. “Ela (a polarização municipal) também trabalha no campo afetivo, ela trabalha numa perspectiva de mobilizar os lados, mas ela é muito mais enraizada, porque a vida no município é diferente”, analisou.
“A pessoa sabe de quem é aquela padaria, de quem é a farmácia, quem é o dono, quem é a pessoa. Então, tem ali uma polarização que envolve inclusive os hábitos de consumo, de sociabilidade. E isso vai estruturando a disputa num nível muito mais profundo”, acrescentou. Correio