O vereador eleito na cidade de Nazaré, Junior Figueiredo (PSDB), se entregou na sede da Polícia Federal, em Salvador, nesta quarta-feira (11). Ele é suspeito de integrar a organização criminosa acusada de desvios milionários em recursos públicos.
Segundo a Receita Federal, a organização criminosa usava um esquema estruturado para direcionar recursos públicos de emendas parlamentares e convênios para empresas e indivíduos ligados a administrações municipais. O grupo teria movimentado aproximadamente R$ 1,4 bilhão.
Junior Figueiredo era considerado foragido, pois não foi localizado na terça (10), quando os agentes deflagraram a Operação Overclean. A equipe de defesa do empresário e político negociou a rendição após uma câmera do sistema de reconhecimento facial flagrá-lo dirigindo por Salvador.
Com isso, pelo menos 16 dos 17 alvos de mandados de prisão preventiva já foram capturados. Apenas Itallo Moreira de Almeida, servidor da Secretaria de Educação do Tocantins e suspeito de favorecer empresas nas licitações, segue foragido.
Junior Figueiredo se entregou após ser flagrado por câmera de reconhecimento facial — Foto: Arquivo pessoal/Divulgacand | Arte g1
As suspeitas contra Junior Figueiredo
De acordo com a investigação policial, a participação de Ailton Figueiredo Souza Junior — nome completo do político — era concentrada em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, com “amplo e irrestrito acesso aos mais diversos setores da prefeitura”.
O g1 e a TV Bahia pediram um posicionamento à defesa de Junior Figueiredo, mas preferiram não se posicionar. O PSDB também não respondeu aos pedidos de nota até a noite desta quarta-feira.
‘Atuação coordenada’
Dinheiro apreendido com um dos alvos da operação — Foto: Polícia Federal
A organização criminosa suspeita de promover esses desvios milionários “atua de forma sistemática e coordenada pelo menos desde 2021”, conforme descrito na decisão judicial que determinou a prisão preventiva dos investigados. Desse total, pelo menos 16 pessoas foram presas na Bahia, em São Paulo e em Goiás.
A PF também cumpriu 43 mandados de busca e apreensão e ordens de sequestro de bens em cidades da Bahia, Tocantins, São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
A descoberta do esquema
A decisão assinada pelo juiz federal Fábio Moreira Ramiro, da 2ª Vara Federal de Salvador, mostra que a investigação nasceu para apurar infrações penais no pregão eletrônico 3/2021, do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). O anúncio em questão foi divulgado para contratar serviços comuns de engenharia para obras em estradas vicinais.
“Entretanto, o aprofundamento das investigações demonstrou a existência de uma organização criminosa dirigida pelos irmãos Alex Rezende Parente e Fábio Rezende Parente, [e por] José Marcos de Moura e Lucas Maciel Lobão Vieira”. Esses quatro formam o “núcleo central da organização”, conforme apontado pela Polícia Federal.
👉Alex é descrito como o grande coordenador do esquema, suspeito de negociar diretamente com servidores públicos.
👉 Fábio seria o executor financeiro da organização.
👉 Lucas é suspeito de financiar as atividades ilícitas, já que atuava no DNOCS e favorecia as empresas nos bastidores — ele foi destituído do cargo de coordenador estadual no órgão, em setembro de 2021, após um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) apontar sobrepreço estimado em R$ 192.309.097,16 na compra de 470 mil reservatórios de água de polietileno.
👉 José Marcos Moura, o “Rei do Lixo”, é suspeito de prospectar contratos, “com a cooptação de servidores mediante pagamento de propina”.
Embora a investigação tenha surgido no DNOCS, os investigadores concluíram que as fraudes não se restringiam ao departamento de obras.
Movimentações suspeitas
Uma das empresas dos irmãos Rezende é a Allpha Pavimentações. A decisão destaca que a empresa obteve cerca de R$ 150 mil em contratos com DNOCS no período de aproximadamente três anos. O valor chama atenção porque a empresa foi fundada apenas em 2017, com capital social de R$ 30 mil à época. Atualmente, o capital social do empreendimento é estimado em R$ 16 milhões.