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Os fatos que basearam a denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 33 pessoas foram divididos em cinco peças acusatórias. O grupo é acusado de estimular e realizar atos contra os Três Poderes e contra o Estado Democrático de Direito. Os crimes são:
– organização criminosa armada (art. 2º, caput, §§2º, 3º e 4º, II, da Lei n. 12.850/2013), com penas de reclusão de 3 a 8 anos e até mais 4 anos se houver emprego de arma de fogo;
– tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (art. 359-L do Código Penal), com penas de 4 a 8 anos;
– golpe de Estado (art. 359-M do CP), com penas de 4 a 12 anos de reclusão;
– dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima (art.163, parágrafo único, I, III e IV, do CP), com penas de 6 meses a 3 anos;
– deterioração de patrimônio tombado (art. 62, I, da Lei n. 9.605/1998), com penas de 1 a 3 anos de prisão.
Somadas as penas máximas, caso sejam condenados por todos esses crimes, os denunciados podem pegar até 38 anos de prisão.
A denúncia da PGR foi oferecida nesta terça-feira (18) ao Supremo Tribunal Federal (STF). O relator do caso no STF, ministro Alexandre de Moraes, analisará as denúncias.
As peças acusatórias baseiam-se em manuscritos, arquivos digitais, planilhas e trocas de mensagens que revelam o esquema de ruptura da ordem democrática, segundo a Procuradoria. Descrevem ainda, de forma pormenorizada, a trama conspiratória armada e executada contra as instituições democráticas.
De acordo com a denúncia da PGR, a organização tinha como líderes o então presidente da República e o seu candidato a vice-presidente, general Braga Neto. Aliados a outras pessoas, dentre civis e militares, eles tentaram impedir, de forma coordenada, que o resultado das eleições presidenciais de 2022 fosse cumprido.
Ação planejada
De acordo com as investigações, o plano teve início em 2021, com os ataques sistemáticos ao sistema eletrônico de votação, por meio de declarações públicas e na internet. Em julho do ano seguinte, o então presidente da República se reuniu com embaixadores e representantes diplomáticos acreditados no país para verbalizar as conhecidas e desmentidas acusações sobre fraudes nas urnas eletrônicas, na tentativa de preparar a comunidade internacional para o desrespeito à vontade popular nas eleições presidenciais.
Ainda segundo a PGR, durante o segundo turno das eleições, foram mobilizados aparatos de órgãos de segurança para mapear e impedir eleitores de votar no candidato da oposição. E as pessoas envolvidas nessa etapa atuavam na Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, facilitando os atos de violência e depredação, em 8 de janeiro de 2023.
Ao não encontrarem falhas no sistema eleitoral, os envolvidos mantiveram o discurso de fraude e mantiveram a militância com os acampamentos montados em frente a quartéis do Exército em várias capitais do país.
Em outra frente, a organização criminosa pressionou o Comandante do Exército e o Alto Comando, formulando cartas e agitando colegas em prol de ações de força no cenário político para impedir que o presidente eleito assumisse o cargo. A denúncia aponta a elaboração de minutas de atos de formalização de quebra da ordem constitucional, dentre os quais se cogitava a prisão de ministros do STF.
As investigações revelaram a operação de execução do golpe, em que se admitia até mesmo a morte do presidente e do vice-presidente da República eleitos, bem como a de ministro do STF. O plano teve anuência do então presidente da República.
A violência no dia 8 de janeiro foi a última tentativa. A organização incentivou a mobilização do grupo de pessoas em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, que pedia a intervenção militar na política. Os participantes fizeram o percurso acompanhados e escoltados por policiais militares do DF, invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes. O episódio gerou prejuízos de mais de R$ 20 milhões.